"Na freguesia de Santa Eulália de Arnoso, concelho de Vila Nova de Famalicão, na falda do monte vulgarmente chamado de Santa Baia, próximo à Ponte do Olheiro, que atravessa um fragoso regato, há uma lapa a que o povo, desde remotas eras, dá o nome de - Buraco do Olheiro.
O Buraco do Olheiro é um subterrâneo que tem aproximadamente um quarto de légua até ao monte de Palhares, onde antigamente havia um castelo dos mouros, e por sinal que ainda se encontram, por lá, pedras e tijolos do castelo.
Mas Jesus! Há que tempos que isso foi: eu já o ouvia contar à minha mãezinha (que Deus lhe fale na alma) que já lho contava o paizinho dela.
Ora, como eu ia dizendo, viveu nesta freguesia, no tempo dos pagãos e dos mouros, um lavrador que tinha uma manada de bois que mandava pastar aí para o pé do Buraco do Olheiro.
Uma das vacas vinha do monte sempre mais farta do que as outras, mas o que admirava era que a vaca tinha uma cria, e quando recolhia à corte nunca trazia leite...
O lavrador desconfiou que lho tiravam por lá, e, vão depois, foi-se pôr à vigia e viu que a vaca entrou para o Buraco do Olheiro, e quando ela já ia longe, foi a correr atrás e ainda se lhe agarrou ao rabo.
A vaca foi indo, indo, por baixo do subterrâneo, e, quando chegou lá para ao pé do monte Palhares, pôs-se a pastar num prado de rica erva.
Entrementes, apareceram as mouras e muitos mouros, que nada disseram ao lavrador, que estava benzido do que via...
Um dos mouros, foi tirar o leite à vaca, mas o lavrador nunca se desamarrou do rabo, se não ficava lá encantado.
A vaca depois de ter pastado até fartar veio-se embora e o lavrador seguiu-a, sempre amarrado, e quando chegou a casa contou tudo à mulher, mas tão tolhidinho ficou que, passados três dias morreu.
Foi assim que se soube que no Buraco do Olheiro há mouras e mouros encantados; muita riqueza e até sinos de ouro, que o homenzinho (Deus lhe fale na alma) viu lá dentro.
Ainda hoje nenhum mancebo, ainda que seja um valentão, se atreve a passar de noite, perto do Buraco do Olheiro porque empecem lá coisas ruins e feitiçarias."
[Fonte: Abílio de Magalhães Brandão]
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